Essas são algumas das frases que de forma costumeira são repetidas aos quatro cantos da cidade baseados, sobretudo, no que é apresentado pela chamada grande mídia. No discurso proliferado pela imprensa periferia é sinônimo de violência. E ponto final. Quem vem de fora já entra cabreiro. À noite, nem pensar! Quem paga por isso são os moradores. Entre tantos transtornos, frutos desse estigma, está o fato de taxistas e motoristas de Uber simplesmente recusarem corridas para essas localidade. A negativa é feita sem cerimônia.
“Nordeste? Vou não. Ali é muito perigoso. Não vou arriscar minha vida”. Isso foi o que ouviu Maíne Sansi ao chamar o Uber no Imbuí com destino ao Vale das Pedrinhas. Situação parecida viveu Giovana Castelian. Mês passado a jovem, que tinha como destino a rua do gás, foi deixada no Bom Preço do Rio Vermelho pelo motorista que se recusou a entrar no local.
O mais impressionante é que a mesma estava com o filho de cinco anos, mas isso em nada sensibilizou o taxista. O que espanta é que às vezes a desconfiança parte de motoristas do próprio bairro como conta Eva Felzem, moradora do final de linha do Vale das Pedrinhas: “Era aniversário de minha avó e eu estava na correria. Tinha que buscar um bolo lá no Iguatemi. Fui e na volta quis pegar um táxi. Usava apenas sandália havaiana, um short folgado e blusão. Quando pedi o táxi que ele parou, ele me olhou dos pés à cabeça e perguntou para onde eu iria. Eu aí respondi e ele me perguntou se eu tinha dinheiro para pagar. Tipo: eu estava com um bolo na mão né? Será que ele pensou que eu achei na rua? Eu aí dei uma resposta na mesma hora e perguntei se toda vez que ele pega um passageiro ele perguntava isso. Chamei um táxi próximo e um tempo depois encontrei ele na fila do ponto de táxi do fim de linha do Vale das Pedrinhas”.
O motorista da Uber, Gabriel Macêdo (nome fictício) mora em Amaralina há 34 anos. Conhece a localidade de “cabo a rabo”. Gabriel conta que costuma recusar corridas a depender do local e que inclusive costuma recusar chamadas para o bairro da Santa Cruz, principalmente no horário noturno onde segundo ele há um risco maior. “Sei que o local tem alto índices de assaltos e violência. Comigo mesmo já aconteceu. Fui deixar uma cliente lá por volta das 2h da manhã. Entrei com os quatro vidros do carro abaixados, com o farol de estacionamento e a luz interna ligada. Mesmo assim um cara apontou uma arma para mim e chutou meu carro. Muitos colegas também já sofreram ameaças”, explica Macêdo. Ainda de acordo com o Gabriel vários colegas já reportaram que não entram no bairro da Santa Cruz, principalmente. “Nordeste somente no final de linha. Vale das Pedrinhas somente até um certo ponto e a depender do horário. Todos têm medo de assalto...”, conclui o motorista.
O CONTRASTE DE CLASSES SOCIAIS |
Danilo Ventura (nome fictício) explica que muitos dos “ubers” recusam a chamada devido aos relatos de assalto nos bairros aqui citados. Hoje residindo no Costa Azul, mas já tendo morado em Amaralina por alguns anos o rapaz frisa que entra nessas localidades sem nenhum problema, pois conhece a região. “Sei identificar as regiões perigosas. Só aceito chamadas onde conheço e acho seguro. O risco é um pouco menor. Mas entendo o receio de alguns que não aceitam chamadas para essas localidades. ”, ressalta. Costa afirma que costuma recusar corridas para lugares ditos perigosos, sobretudo onde ele não conhece. “Já fui parar em Valéria... Já fui parar em Camaçari... São regiões que que eu não costumo andar, então recuso a corrida. Mas levar a pessoa, eu levo sempre. Independentemente do local”, conclui.
Por Tiago Queiroz - Redacao@nordesteusou.com.br
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