VOCÊ CONHECE O SISAL, OU O MOTOR DELE?

O sisal é a alma de Conceição do Coité, na Bahia (200 km de Salvador). O trabalhador desta agroindústria é, sobretudo um bravo. Sem meias palavras, um herói. Mal o dia amanhece no sertão e já se ouve nos confins das caatingas o som de um motor a roncar entre intervalos compassados. O som não sai da mente. Quem o ouve por alguns minutos tem a impressão de que o motor de sisal nunca para. É à sua volta que circulam trabalhadores heroicos, corajosos e dispostos a enfrentar as intempéries e os perigos da caatinga.


A fibra polida que sai nos contêineres para exportação não leva consigo os vestígios do trabalho anterior. O desafio do cortador das folhas do agave (Agave sisalana) representa em primeira instância um processo rápido de produção. Do chão, as palmas serão levadas por animais (geralmente asininos) até o espaço onde o motor estará instalado. Dali as folhas irão para a ‘banca’, onde o “cevador” separará – com o auxílio da maquina – o resíduo da fibra. É um trabalho que exige muita atenção, uma vez que muitos homens já perderam dedos, sugados pelas espátulas do motor. O ‘resideiro’ é responsável por apanhar da caixa inferior o resíduo que sai da fibra e amontoá-lo numa pilha próxima ao motor, além de fazer a pesagem da fibra em balanças rudimentares. A silagem serve para a alimentação de bovinos e caprinos. Dali a fibra de sisal é estendida geralmente por mulheres nos chamados ‘campos’ para secar e depois é estocada em casas antigas próximas ao motor.

Dali o sisal é conduzido às ‘batedeiras’ que são mini-indústrias onde se processa a fibra, tirando-lhe essencialmente o pó e aplicando-lhe produtos químicos. Existem milhares de batedeiras na região sisaleira. Em Conceição do Coité, a maioria delas emprega uma parte considerável da população. Dali o sisal sairá para Salvador, em caminhões, onde será colocado em contêineres, para serem exportados em navios. Em todo este processo perdura a simbologia da limpeza da fibra, para que não se deixe uma marca de resíduo. Mas é naquele amarelo que estão as marcas do trabalhador rural. O trabalhador do sisal acorda cedo, mal se alimenta, tem vestimentas precárias e não há proteção alguma para que exerça dignamente o seu trabalho. Isso não impede, contudo, que um bom cevador, por exemplo, retire duas toneladas de sisal por dia.

Às vezes a caatinga silencia. É meio dia. Num fogão improvisado de pedras e abastecido com lenha, borbulha uma panela encarvoada com feijão ou carne seca. O acompanhamento é farinha de mandioca. Nos rostos uma marca de heroicidade que o Brasil não enxerga: é nos trabalhadores que está a força deste país. É sempre a eles que o sistema recorre em tempos de crise. Porque o trabalhador precisa receber a dignidade de herói, hoje dedicada a muita gente que sequer derramou uma gota de suor do rosto. Nesta saudação aos trabalhadores do sisal, estendo as congratulações a todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil. Para que não se esqueçam das lutas que estão por vir. Em tempo: Da sugestão do amigo navegante, o maestro Josevaldo Nim, de quem acompanho excelente trabalho na Orquestra Santo Antônio de Conceição do Coité, publico abaixo a música ‘O Sisal Tem Valor’, do grupo Som do Sisal.

Texto encontrado na web. Autor: Desconhecido
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