Eu já quis ser professora, freira, historiadora, arqueóloga e acabei escolhendo o jornalismo. “Se você soubesse como uma salsicha e um jornal são feitos, talvez não os consumisse” – eu ouviria anos mais tarde as pessoas brincarem na redação. Tinha também a versão: “Quem mandou não estudar? Agora aguenta isso aqui”.
Eu, que fiz jornalismo por paixão, sob protestos do meu pai, que via potencial para uma médica, percebi aos poucos que estava no lugar errado.
O objetivo de parte das pessoas ali era preencher a página que lhe cabia; de outra boa porção, agradar às fontes: os entrevistados costumavam escrever no dia seguinte, agradecendo pela exposição ou reclamando de uma aspa mal colocada. Era o pouco contato que se tinha com o leitor – até mesmo porque apenas as fontes tinham o e-mail do jornalista.
Às vezes alguém desviava uma ligação de assinante para a redação e era uma chateação só: como isso veio parar aqui?
O que mais me incomoda até hoje no jornalismo, especialmente de economia, é a falta de propósito. Por que e para quem você está escrevendo aquilo ali?
Eu não chego em casa e digo: “Oi, pai, o Copom cortou a Selic”. A não ser que ele seja da Economia ou esteja ligado ao mercado. Como o meu é médico, eu arrisco algo na linha: “Pai, como é que tá aquele seu fundo DI do Bradescão? Viu que o retorno tá caindo, né? O Banco Central tá cortando o juro. Vou te mostrar de novo aquele da corretora”.
Também não chego em casa falando para minha mãe o Ebit da Magazine Luiza. Sim, minha mãe é investidora. Mas ela gosta mesmo é de ouvir do dia em que conheci a Luiza Helena Trajano. E de como ela contou que transformou um tombo carregando a tocha olímpica em uma ação de marketing com produtos que caíram de preço: #CairFazParte.
Por Luciana Seabra
Edição: Sandra Guerreiro
Edição: Sandra Guerreiro
* A MANCHETE É NOSSA
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