A proposta era prestar "um tributo a outras vozes femininas africanas e da diáspora negra", mas a mesa "Amadas" foi além.
O debate que abriu neste domingo (30) o último dia de programação da 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) reuniu Ana Maria Gonçalves, autora de "Um defeito de cor" (Record), e Conceição Evaristo, ganhadora do Prêmio Jabuti e descrita como "uma das principais vozes da memória negra brasileira".
"Que a gente comece a pensar a literatura indígena e negra como algo integrado à literatura brasileira", pediu Ana Maria Gonçalves, já no início da mesa, dando o tom que a conversa teria.
"Feminismo, racismo e migrações estão concentrados nessa Flip sem perder o foco. Por mais curadores femininos e negros."
A organização adotou uma dinâmica diferente, dando ares de "arquivo confidencial" ao encontro. Fotos no telão relembraram a trajetória de Conceição desde a infância. Ao tentar explicar o conceito de "escrivência"', a autora mineira propôs uma mistura de música e escrita.
"Tudo que eu produzo é marcado pela minha experiência de mulher negra brasileira. Devemos pensar não somente no texto escrito, me encanta a musicalização. Ninguém chora diante de um dicionário. Ele tem palavras, mas não comove. O texto age de uma forma mais dinâmica."
As referências às mulheres negras viriam em seguida, puxadas por Conceição.
"Por que todo mundo lê Clarice Lispector e entende que ela está falando das angústias e não percebe isso de Carolina Maria de Jesus? Isso é esvaziar a humanidade e as angústias das negras. Diziam que ela feria as normas da língua, mas eu diria que são formas ocultas da língua."
No fim, a autora mineira sublinhou o engajamento da literatura que pratica e por que "quando a mulher negra cresce, tudo ao redor acompanha".
"Vamos continuar afirmando que o subalterno pode falar. Vamos continuar estilhaçando o orifício dessa máscara. A nossa identificação não pode mais ficar fora da literatura brasileira."
G1
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