Caro (ou nem tão caro assim) José Eduardo, dizem que você é meu vizinho, sabia disso? Se é verdade ou não, eu não saberei dizer. O fato é que eu não consigo imaginar um lugar mais apropriado do que o Corredor da Vitória para você. Alguém que vive da exploração da miséria e sofrimento alheio e ainda tenta usar a máscara de defensor dos pobres. Talvez o tamanho da sua boca esteja atrapalhando o encaixe perfeito desta máscara em seu rosto.
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Ontem, durante o meu almoço aqui na Residência Universitária (R1) da UFBa, tive a infelicidade de acompanhar um pouco do seu programa. Confesso: não vi nada do que já não tinha visto e/ou ficado sabendo através do relato indignado de alguém.
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É, tenho que lhe dizer que o que chega até mim sobre seu programa vem sempre acompanhado de um tom de indignação, revolta e desconcerto diante das explorações, torturas emocionais e chacotas que você e sua equipe fazem, justamente na parcela da população que dizem defender e dialogar.
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Print da pagina pessoal do Bruno Bonfim |
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Sim, mas voltando ao que vi em seu programa ontem: Dois homens que saíram de Caruaru – PE em busca de trabalho em Salvador e são negativamente surpreendidos com o atual cenário do mercado de trabalho. Se veem obrigados a voltar para a sua cidade e, infelizmente, enxergam na sua equipe uma oportunidade de conseguir as duas passagens que os levarão de volta a difícil missão de procurar emprego numa cidade que eles já haviam desistido anteriormente.
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É neste momento, quando o indivíduo não vê outro caminho senão o de pedir ajuda. Quando ele deposita sua confiança e esperança nas suas mãos, Zé Eduardo. É aí que você entra em ação para fazer o que mais sabe: usar e torturar as pessoas. Sinto que este seu lado sádico torna-se cada vez mais forte a cada novo programa.
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Diante das câmeras os dois homens que esperam a sua ajuda, são submetidos a um interrogatório que tem um objetivo muito claro: Fazê-los admitir que são homossexuais. Que formam um casal e que desejam continuar juntos.
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Eles, que inicialmente haviam declarado que são amigos, são submetidos a uma espécie de tortura psicológica. Lembra, Zé Eduardo, quando você falou para eles que havia conseguido apenas uma passagem e que o outro teria que ficar em Salvador? Lembra quando você ficou questionando insistentemente para ambos se um sentiria falta do outro? Zé, chega aqui, me diz: para que fazer isso? Se o objetivo é ajudar as pessoas, por quê submetê-las a situações como esta? Não, Zé. Não precisa responder, eu sei a resposta.
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Escrevo esta carta sem um objetivo muito específico. Escrevo porque não conseguia assistir aquilo sem ficar extremamente inquieto por dentro. Escrevo porque sei que você já fez o mesmo com tantas outras pessoas e isso me faz perder o sono. Escrevo Zé, porque sei que esta carta não vai parar embaixo da sua porta, mas sim no horizonte ocular de outras pessoas. E fica aqui o meu desejo para que ela contribua a uma reflexão mais profunda.
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Não Zé, a reflexão não é sobre quem você é ou o que está por trás do seu fraco programa. Afinal, como escrevi no início desta carta, a máscara não encaixa bem em você.
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A reflexão que proponho é quase retirada de algum livro de auto-ajuda – e olha que nem sou fã deste gênero literário.
Em tempos difíceis, de crises econômicas, políticas, de caráter. Em tempos onde não há muito a oferecer e o egoísmo e individualismo prevalecem. Nestes tempos, ofereça algo que não lhe custa dinheiro. Ofereça algo que não mata e nem tira pedaço. Ofereça aquilo que você quer para si mesmo. Ofereça o que o Zé Eduardo ainda não ofereceu em seu programa. Ofereça respeito ao outro. Isso vale muito!
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Bruno Bomfim