Polêmica sobre o
uniforme branco voltou a tona no domingo, quando uma família levou a babá à
manifestação uniformizada
Forçadamente a Foto viralizou na Internet - Foto de babá acompanhando a família
à manifestação de domingo foi criticada nas redes sociais
A foto da babá Maria Angélica de Lima, 45, vestida de branco enquanto
empurra um carrinho de bebê com os filhos do patrão e vice-presidente de finanças
do Flamengo, Claudio Pracownik, causou muita polêmica nas redes sociais nos últimos
dias.
A babá, as crianças e seus pais foram clicados quando seguiam para o ato
que pediu o impeachment da presidente Dilma, em Copacabana, no último domingo
(13). A imagem foi compartilhada milhares de vezes.
Apenas a foto publicada no perfil pessoal do músico Tico Santa Cruz no
Facebook, com a legenda "Emblemática", foi compartilhada 77 mil
vezes. Muitas pessoas demonstraram apoio ao dirigente do Flamengo.
"Emblemático do quê? Ninguém está chicoteando a moça. Se você vê algum
racismo nessa foto, o racista é você. Se vê algum ensejo à luta de classes, é
um retrógrado", dizia um comentário que recebeu 23 mil curtidas.
Outros comentários, por outro lado, desaprovaram a atitude da família
dizendo que a imagem retrata a "exploração dos negros" que ainda
persiste no país. "O dia em que uma criança filha de rico sonhar em ser
babá ou empregada doméstica, a gente conversa sobre: 'é um emprego como
qualquer outro'."
A BBC visitou nesta terça-feira parques com grande circulação de babás e
buscou em redes sociais a opinião de babás sobre o caso.
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"Praça das Babás", em Higienópolis - Foto Divulgação |
No parque Buenos Aires, conhecido como "Praça das Babás", em
Higienópolis - área nobre da região central de São Paulo -, cerca de 30 babás
circulavam por volta das 10h. Algumas desconheciam o caso polêmico, mas a
maioria aprovou a atitude do dirigente do Flamengo.
"Se ele está pagando meu salário, pode exigir que eu vista
determinada roupa no meu horário de trabalho. E nesse protesto contra o governo
que tirou nosso dinheiro nos últimos anos eu iria até de graça", disse
Auricélia Custódio, 32, enquanto embalava a Theodora num carrinho.
Por outro lado, a babá Vera Lucia de Godoi, 54, encontrada em redes
sociais, disse que o uniforme é uma forma dos patrões usarem os funcionários
como objeto de ostentação e poder. "É como se ele estivesse dizendo para
as outras pessoas: 'Olhem, eu posso pagar uma funcionária e mandar nela'",
afirmou.
Ela também afirmou que não aceitaria ir a protestos durante seu
expediente. "Não é porque sou babá que sou obrigada a ir a uma manifestação
cheia de gente com más intenções e onde pode ter violência a qualquer hora.
Também acho irresponsável alguns pais levarem seus filhos a um ambiente desses,
ainda mais sob sol forte."
"Ganha
por isso"
No mesmo dia em que a foto viralizou, o dirigente flamenguista publicou
um texto em sua página no Facebook no qual afirmou que a babá trabalha apenas
no fim de semana e ganha por isso. "Não a trato como vítima, nem como se
fosse da minha família. Trato-a com o respeito e ofereço a dignidade que qualquer
trabalhador faz jus", diz um trecho da mensagem que tinha sido
compartilhada mais de 115 mil vezes até a noite desta terça.
Toda de branco, Renata Cardoso da Silva, 30, cuida de bebês gêmeos e
também apoia o dirigente carioca. "Qual o problema de usar uma roupa
branca? Isso não me faz pior do que ninguém. Pelo contrário, ganho melhor que
muita gente que trabalha em escritório com ar-condicionado", disse.
Babás que estavam próximas dela no parque Buenos Aires demonstraram
insatisfação com a opinião da companheiras de profissão, mas se recusaram a
falar com a reportagem, mesmo sob a condição de anonimato. "Não
concordo", se resumiu a dizer uma delas.
Em entrevista ao jornal carioca Extra, a babá que aparece na foto
polêmica disse que o uso do uniforme é um dever dela. "Desde o momento que
a gente trabalha e tem uniforme, a gente tem de usar. Tem casas que não pedem,
outras precisam. Eu acho até melhor porque preserva mais as nossas roupas. E
tudo eles que dão. Eles dão sapato, calça, bermuda, blusa", afirmou ao
periódico.
A mulher do vice-presidente de finanças do Flamengo, Carolina Maia
Pracownik, também usou as redes sociais para rebater os comentários contrários
e criticar a repercussão do caso. "Estou extremamente chocada e assustada
com a nossa exposição forçada e com tamanha crueldade, violência expressa e
ódio gratuito", relatou em seu perfil no Facebook.
"Existe um 'dress code' para diversas profissões: médico,
enfermeiro, porteiro, dentista, policial, bombeiro, advogados etc. E por qual
razão as babás, com sua profissão regulamentada, não podem usar branco,
traduzindo paz e assepsia ao cuidar de uma criança? Este argumento de
discriminação é inaceitável e preconceituoso", diz outro trecho do texto
publicado por Carolina.
A babá Edilene Maria de Lima Silva, 56, também defende o uso de
uniformes no trabalho. "É muito mais higiênico trabalhar com uma roupa
branca e limpa todos os dias. Eu já trabalhei assim em muitas casas. Foi ótimo
e não senti nenhum preconceito nesse período", disse.